terça-feira, 5 de fevereiro de 2013




SER MULHER

Por Fabiana de Almeida


Ser mulher...
Quem se habilita?
Quem se habilita a aceitar sua cultura, usar a burca e ainda se sentir vista, se sentir bela?
Quem se habilita a submeter-se aos fetiches masculinos e ter seus pés enfaixados, dilacerados, minimizados a uma flor de lótus?
Quem se habilita a admirar-se diante da estranheza de exibir inúmeras argolas douradas envoltas em seu pescoço que o elevam em centímetros?
Quem se habilita a ser vendida, usurpada ou objeto de troca ou de investimento, e ainda viver?
Quem se habilita a viver - apesar de sobreviver - após a mutilação genital pública, imunda?
Quem se habilita a guerrear, a lutar pela terra, pela raça, pela crença, pela vida, pelo direito?
Quem se habilita a travar uma luta diária, quase intermitente, para ser forte e não esmorecer?
Quem se habilita a suportar a violência doméstica, a humilhação, a desonra, e ainda se sentir humana?
Quem se habilita a cuidar do marido, dos filhos e também dos filhos dos outros; cuidar da casa, do jardim, trabalhar horas ininterruptas, e ainda ser...?
Quem se habilita a ser mãe... Parir quantas vezes quiser ou forem necessárias para que possa ter um objetivo?
Ser mulher...
Quem é capaz?
Quem é capaz de ser Helena, que abandonou seu reino espartano para viver um grande amor troiano?
Quem é capaz de ser Maria, cuja resignação trouxe à luz o maior Homem do mundo?
Quem é capaz de mudar o mundo, de tocar a alma humana, de enxergar o invisível, de compreender o inteligível?
Quem é capaz de minimizar as dores, suavizar os dissabores, ser o pavio que acende a chama da vida?
Quem é a guardiã de corpos, capaz de amar o desconhecido em seu ventre mais do que a si mesma?
Afegãs, chinesas, muçulmanas, africanas, mulheres girafa. Americanas, brasileiras, italianas, francesas.Camponesas, lixeiras, lavradoras, executivas, professoras, estudantes.
Quantas Marias e quantas Helenas, ainda que anônimas, serão capazes? Capazes de fazer milagre?
Ser mulher... A doce e dolorida tarefa de ser o milagre.



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