domingo, 12 de agosto de 2012

INSÔNIA


Poemas inacabados, pensamentos difusos, música triste. Filmes começados que nunca chegam ao final, papéis sobre a mesa, letra irrequieta. Idas ao sofá, e ao quarto, e ao banheiro, idas à janela e à visão luminosa da noite. Ordem na agenda, ordem nos e-mails, ordem na cozinha, ordem, ordem, ordem. E nem três horas se passaram.

Varanda. Cadeira de praia e as estrelas e a lua vertiginosamente bela. Surgem os pensamentos. De início os mais tolos, fúteis. Um organograma do dia seguinte. Pensamentos como o que tomar no café da manhã, que roupa usar, que hora pegar o ônibus, essas coisas. E numa dessas voltas, o encontro com o medo. Com o desamparo. Com o que não se aceita. Um encontro com o que remói as entranhas, embrulha o estômago, com o que adoece.

O pensamento é o inimigo agora. As horas passam mais depressa, mas não se consegue sentir. E a solidão acopla junto aos pensamentos malignos. E nesse momento não há filhos, marido, amigos. Só um ser único, indizível, e por hora, sofrido.

Um ser que ninguém vê ou repara ao menos, infelizmente mais um dentre tantos que atravessam a vida sem ser notado. Mas, só agora, nessa noite insólita, noite sem sono, sem amores, sem ninguém. Só agora que a invisibilidade toma conta do momento, das últimas horas que perpetuam a noite.

 Por Fabiana de Almeida