domingo, 23 de outubro de 2011

Superação?

Serra da Canastra é um dos lugares mais lindos e emocionantes que já conheci. Além do descanço e o contato (literal) com a natureza, há outros atrativos. A comida, por exemplo. Tipicamente mineira, apresenta uma das melhores dietas do planeta que o fazem comer o dia todo. Mas o melhor ainda não é isso. A escalada da Serra, situada no Parque Nacional da Canastra, reserva ambiental que elogio desde já sua preservação, acho que seja mais interessante.
Há duas maneiras de se conhecer o início do rio São Francisco: pela maneira fácil e pela difícil (assim dizem as placas no pé da Serra). Claro, nosso guia e amigo escolheu a maneira mais difícil, tendo em vista a proibição de há quase dois anos de subir os 3 mil metros e, consequentemente, descer.
Começamos a escalada todos muito animados, eu particularmente tenho uma resistência física impressionante, apesar do sedentarismo milenar. Enquanto não visualizava nenhum penhasco, tudo foi dentro da mais perfeita normalidade: ajudava outros aventureiros, ria das piadas e prestava atenção à paisagem.
Quando esses tais penhascos começaram a aparecer (talvez estivéssemos a uns 1,5  mil metros), parei de prestar atenção à paisagem e passei a me interessar mais pelo caminho por onde deveria pisar. Até então tudo sob controle. Chegamos ao início da cachoeira, e obviamente não consegui ir até a ponta, que poderia visualizar pessoalmente a imagem mais linda que jamais teria visto se não fossem as fotografias que todos (exceto eu) tiraram.
A partir desse momento comecei a me descontrolar. Sabia que agora seria a descida. Meu Deus! Era o pânico de altura chegando!
O caminho de volta foi um martírio. Precisei do meu marido mais do que jamais precisei de alguém em toda a minha vida! A respiração passou do estágio de ofegante para quase fibrilação. Comecei a chorar. Não o choro de tristeza ou alegria, com todo aquele soluço e tal. Um choro descompensado, descontrole de caimento das lágrimas, um tremer involuntário, sentei e não conseguia mais levantar. Não de cansaço, de pânico. Afinal de contas, são 3 mil metros!
Eu tinha que sair de lá.
Do jeito que falo, parece até que estava em um campo de batalha, do tipo que tem sido há mais de dois mil anos praqueles lados do Oriente Médio. Era só a Canastra!
Passei a focar somente em meus passos, e quando dei por mim, já podia visualizar o início de nossa caminhada. Graças a Deus!
Me perguntaram o por quê de ter subido, tamanho o medo que se manifestou em mim. Disse que tentava superar esse meu distúrbio. Um médico amigo meu disse que não deveria ter ido lá. É instinto de sobrevivência. Adorei saber que o que senti é instinto de sobrevivência. Quer dizer que uma parte de mim (e acho que é a maior dela, tamanho grau de medo) quer viver, e muito! E não me intimidarei com outras Canastras, outros 3 mil metros, outros penhascos. A aventura é fantástica, a energia absorvida daquela natureza praticamente intacta renovaram meus neurônios, enfim, não deixarei de encher minha vida DE VIDA!!!!

Um comentário:

  1. Fabi,
    Acho que nunca dei tanta risada!
    Pior de tudo, do seu medo ( desculpa, ehehehe )
    Mas,falando sério, adorei sua redação
    " Superação ",onde, ao lermos, parece que estamos presentes na caminhada, tanto são os detalhes.
    Beijos!

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